Blast Test

Kerbal Space Program (PC) e o horror de estar sozinho no espaço

O universo não tem limites quando se tem uma base de lançamentos e infinitos astronautas a sua disposição.

Kerbal Space Program foi lançado há algum tempo na Steam, em versão alpha. Apesar do status de “não finalizado”, o simulador de espaçonaves já possui uma grande quantidade de jogadores e uma fiel comunidade de modders. Não é por acaso, o jogo, além de ser inovador em sua proposta, também é bem robusto. Tanto que até chamou a atenção da comunidade científica. Agências espaciais de todo o mundo — incluindo a NASA — vêm mostrado interesse no jogo.


Em suma, você possui o controle de uma base de lançamento espacial, com toda a infraestrutura necessária para se lançar um kerbal — vamos chamar os habitantes de Kerbal de kerbal — no espaço: estações de montagem de espaçonaves e aviões, centro de pesquisas, monitoramento e recrutamento de novos cobaias astronautas. É possível montar aeronaves, foguetes, estações espaciais e até bases em outros planetas.

Os planetas são um pouco diferentes do que vivemos. Kerbal, o planeta onde o jogo começa, é povoado por criaturas verdes e com o menor senso de perigo, e um dia possui apenas seis horas de duração. Duas luas orbitam seu lar, e vários planetas com seus satélites orbitam um sol, cada um com suas peculiaridades e belezas escondidas. Há, inclusive, planetas com oceanos e gravidade, basta chegar lá para conhecê-los.



No modo career, o jogador começa com o básico para se jogar alguma coisa fora da estratosfera e com isso deve conquistar novos equipamentos e planetas. Pontos de ciência são obtidos para cada pesquisa feita, que abrange desde relatórios da tripulação a análise de experimentos em compartimentos específicos. O modo sandbox lhe dá de bandeja todos os equipamentos desbloqueados. Basta montar seu veículo e explorar os confins do sistema solar.

Ground control to Major Tom

Minhas primeiras experiências com KSP foram desastrosas. Levei certo tempo para aprender a dar ignição em meu foguete e muito menos para vê-lo se espatifando no solo, depois de uma viagem turbulenta e confusa nos céus kerbalianos. Jebediah Kerman foi o primeiro de muitos kerbals a serem sacrificados em nome da ciência.

Depois que aprendi os macetes (há um tutorial que explica o básico dos controles e de como se aventurar no espaço), comecei a traçar objetivos ousados. Mas para conseguir colocar a primeira nave em órbita de Kerbal, levei horas de jogo aprendendo como dominar os controles e as ferramentas disponíveis. Não há dicas de como se traçar rotas, calcular o consumo de combustível e manter um foguete estável na subida aos céus.

Não que seja preciso ser um cientista de foguetes ou funcionário da NASA para jogar KSP, mas ajuda. Acompanhei o tutorial de um astrofísico gamer e só assim consegui orbitar o planeta. Mal sabia eu que aquilo seria fichinha perto dos próximos desafios autopropostos.



Apesar de ser simples construir um veículo e, depois de algum treino, lançá-lo para fora do planeta, não há um sistema de objetivos impostos pelo jogo, a vontade de se chegar mais longe e a curiosidade são os combustíveis para explorar os confins do universo. Ter um tutorial online por perto lhe poupará horas e horas de experiências malsucedidas.

A Física será sua maior inimiga

Nunca fui um bom estudante de física. Até hoje fico longe de símbolos como Δv (delta-v) e equações como N (= kg m s-2). Não que você precise saber de cór como se calcula um delta-v ou a resistência da gravidade, mas ter algumas noções lhe ajudarão a evitar vexames e a poupar as vidas de alguns kerbals.

Também é útil para saber o melhor dia para se lançar uma espaçonave para um certo planeta. Uma das maiores dificuldades, depois de dominar os macetes de design e lançamento de foguetes, é fazê-los chegar aonde se quer. Também há a questão da dosagem certa na construção, como calcular o combustível necessário para uma certa missão e o melhor tipo de propulsor para certos cenários.




Apesar dos valores e dos cálculos serem diferentes (e mais simples) do que temos na Terra e no nosso sistema solar, ainda há o tremendo desafio de se fazer o design certo, com os melhores componentes, para quebrar certas barreiras impostas pela natureza.

Há inúmeras ferramentas em mods espalhados por aí que facilitam a vida, se você não é fã de astrofísica mas mesmo assim quer brincar de astronauta. O tutorial que apresentei acima aponta algumas das melhores ferramentas.

Houston, temos um problema

Depois de dias lutando contra a gravidade, explodindo dezenas de protótipos e ceifando as vidas de muitos corajosos astronautas, finalmente alcancei um pequeno marco no jogo. Uma órbita bem calculada e o timing preciso levaram meu astronauta a conquistar Mun, a lua mais próxima de Kerbal.



Foi um pouso difícil. A gravidade foi o menor dos problemas, pois tive dificuldades corrigindo a velocidade e o posicionamento correto de meu pobre foguete. Perdi os trens de pouso e lenta e brutalmente fui deslizando pela superfície lunar, até perder todos os compartimentos necessários para o retorno ao lar. Apenas a cápsula onde meu kerbal estava morrendo de medo ficou intacta.

Sem me preocupar em como sair da lua, explorei um pouco, colhi amostras do solo e plantei a primeira bandeira no solo lunar. A recompensa pessoal de alcançar este objetivo foi imensa, apesar de ter destruído todas as formas de se obter pontos de ciência e comprar mais upgrades. Ainda estou pensando em uma forma de resgatar o pobre astronauta.

No espaço, ninguém consegue ver seus bugs

Mesmo que ainda esteja em sua versão alpha, Kerbal Space Program já é bom o suficiente para o seu dinheiro. A diversão é garantida e muitas horas de gameplay explorando a galáxia serão sugadas de seu dia.

Mas se você é daqueles que só gosta de jogos prontos, espere mais um pouco. Ainda há diversos bugs e funcionalidades faltando no jogo, apesar deles não influenciarem muito no gameplay. Por exemplo, os kerbals possuem duas barras de habilidades — coragem e estupidez —, mas, no momento, elas não interferem em nada na performance do astronauta.



Há uma função de acelerar o tempo para quem não quer esperar muito pela melhor janela de lançamento, mas ela tende a arruinar um foguete caso seja acionado durante as fases depois da ignição. Estes e outros pequenos absurdos são fáceis de ignorar para quem está mais interessado em explorar os planetas e montar melhores espaçonaves.

Se você já teve vontade de se sentir dentro de um projeto espacial e saber como é difícil colocar uma pessoa em outro planeta, recomendo KSP. Ficar horas admirando a beleza da criação ignorando como sair de perto dela sem se esborrachar numa montanha ou ficar sem combustível no meio de uma manobra serão algumas pequenas emoções que serão sentidas durante suas aventuras.

Revisão: Alberto Canen
Capa: Stefano Genachi

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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