Crônica

The Witcher 3: Wild Hunt (Multi): primeiras impressões de um novato

A nova aventura de Geralt de Rívia é complexa, imersiva e divertida.


Confesso que nunca fui muito fã de jogos de mundo aberto — não via muita graça em ficar indo pra lá e pra cá, realizando missões e tarefas. Até dei uma chance ao estilo com inFAMOUS: Second Son (PS4) e até gostei da experiência, por mais que achei tudo meio repetitivo e sem variedade. Por conta disso, não dei muita atenção a The Witcher 3: Wild Hunt (Multi) — na minha cabeça parecia mais um desses títulos de temática medieval com muita repetição de missões parecidas. Pouco a pouco, entretanto, passei a acompanhar as novidades do jogo e meu interesse só foi crescendo, ele parecia ser bem diferente do que eu pensava. Com o lançamento do jogo, cedi à grande empolgação e agora estou preso em um belo mundo fantástico e cativante.


Não joguei os títulos anteriores da série, mas isso não é problemático: The Witcher 3 é bem acessível e conta com um livreto com o resumo da história dos jogos anteriores. Não deixe de conferir também nosso guia sobre a história da série.

Uma aventura produzida com esmero

A primeira característica que me chamou a atenção em Witcher 3 foi o cuidado na produção de tudo: os trailers eram muito bem produzidos e a desenvolvedora fazia o máximo para mostrar as qualidades do jogo. Eu também sabia que a versão física do título viria com alguns itens físicos, mas me surpreendi com a qualidade de tudo: o mapa é belo e tem textura que lembra realmente um papel gasto, o CD contém toda a trilha sonora e o livreto de resumo da história é bem completo — dentre os itens, o mais legal é uma pequena carta de agradecimento da desenvolvedora CD Projekt RED. É ótimo ver esse tipo de coisa em uma era que edições físicas mal contam com manual.

A aventura começa com uma bela animação que explica rapidamente a ambientação do mundo de The Witcher: o motivo de esse mundo ter monstros, quem são os bruxos e feiticeiros, a atual situação daquele lugar envolto em conflitos militares. Em seguida é mostrado o protagonista Geralt de Rívia, que está procurando a feiticeira Yennefer de Vengerberg — sua amiga e também paixão do passado. Em um sonho, que funciona como um elegante tutorial, aprendi o básico do jogo e conheci mais alguns personagens importantes. Depois do tutorial e de algumas cenas, por fim, estava livre para explorar o mundo de Wild Hunt.

Um mundo belo e vivo

É difícil escolher palavras para descrever as qualidades The Witcher 3, mas escolhi duas: deslumbrante e imersivo. O deslumbre se dá pelos excelentes gráficos e a incrível direção de arte. Tudo é muito bem trabalhado, desde as várias planícies repletas de vegetações variadas, até pequenos detalhes nas roupas de Geralt. Dá vontade de explorar tudo só por conta da beleza e riqueza de detalhes. Ainda há muita controvérsia sobre a questão do visual estar muito pior em relação ao momento de anúncio do jogo, mas de qualquer maneira é tudo muito impressionante — ainda mais quando você leva em consideração que o mundo é completamente aberto e que as telas de carregamento são raras.

A imersão vem por conta da ambientação: o mundo do jogo é extremamente bem construído. É muito interessante visitar vilas e ver as pessoas de lá conversando entre si — os diálogos são bem pensados e realmente parece que aqueles personagens são aldeões. Todos reagem ao ambiente: as pessoas ficam dentro de casa e reclamam do clima quando está chovendo, Geralt é insultado por alguns que não vão com a cara dele, soldados te atacam quando você rouba algo bem na frente deles. Sempre lembro de um momento no qual pessoas voltaram para uma vila após eu ter expulsado bandidos — um dos aldeões estava tão feliz que falou “Se eu tiver um filho, ele se chamará Geralt em sua homenagem”. A ambientação é complementada pela excelente localização para o português do Brasil: a dublagem e a adaptação do texto estão ótimas.

Fora das vilas, me deliciei em simplesmente explorar o mundo. Perdi as contas das vezes que ignorei a missão da história e simplesmente fui cavalgar por Pomar Branco, a primeira área da aventura. A todo momento eu encontrava algo novo: um ninho de monstros para ser destruído, um acampamento de ladrões repleto de bandidos, tesouros escondidos, vilas abandonadas, pessoas precisando de ajuda. Tudo é bem orgânico e natural, andar à esmo e explorar o mapa em busca de novidades é muito divertido e envolvente. A junção de todas essas características faz com que a sensação de estar ali naquele lugar é forte.


A complicada vida de bruxo

Depois de ler O Último Desejo, primeiro livro da série de fantasia na qual The Witcher se baseia, fiquei me perguntando como a profissão de bruxo seria implementada no jogo. A sensação que eu tive é que a desenvolvedora CD Projekt RED pensou nisso nos mínimos detalhes. Durante a aventura é possível aceitar inúmeros contratos e resolver uma infinidade de problemas. O mais legal é que essas missões não consistem simplesmente em ir à algum lugar e matar o monstro: todas elas exigem investigação e preparação — e, assim como nos livros, nem tudo é o que parece.

Um exemplo é um dos primeiros contratos: um camponês pede que Geralt acabe com um demônio que está assombrando um poço, o que impede que as pessoas consigam água limpa. Chegando ao local, é necessário investigar e colher informações sobre a criatura. Nesse caso eu vasculhei a área e descobri detalhes da motivação do monstro — ou seja, nada é por acaso. Só depois de saber exatamente todas as informações necessárias que foi possível enfrentar a criatura de igual para igual. Me surpreendi com as narrativas ricas e a complexidade das missões.

Outro ponto interessante é a preparação antes de entrar em um combate. Geralt é mais resistente que outros humanos desse mundo, mas ele não é invencível. Os combates são difíceis e até podem ser vencidos somente com ataques de espada, mas tudo fica mais interessante (e fácil) se você fizer as preparações necessárias, como aplicar óleos especiais nas armas, criar poções e bombas, e estudar as fraquezas dos inimigos. Os bruxos sempre realizam essas ações antes de enfrentar qualquer presa e isso ficou bem representado no jogo.


Depois dos desafios de Bloodborne (PS4), decidi jogar The Witcher no nível de dificuldade “difícil”. No começo eu morri várias vezes tentando entender como funcionava o combate, atacando de qualquer jeito. Depois eu aprendi que a preparação é muito importante (para não falar crucial), sendo assim sempre aplico um escudo protetor e faço os ajustes necessários nos meus itens antes de enfrentar qualquer coisa — assim como Geralt normalmente faz em suas aventuras.

Imersivo e viciante

The Witcher 3: Wild Hunt é um daqueles jogos que te prende fortemente. O motivo disso é simples: o mundo é vasto e repleto de possibilidades. É muito divertido explorar esse lugar fantástico e enfrentar os vários perigos interessantes. E a aventura é muito mais que isso: existe uma trama complexa onde cada decisão muda significativamente os rumos da história, várias opções de construção e customização de itens, e atividades paralelas como um jogo de cartas e corridas à cavalo — ver tudo isso vai levar um bom tempo, afinal a aventura tem mais de 200h de conteúdo. De qualquer maneira, a característica mais interessante de The Witcher 3 é a imersão: é difícil sair desse mundo depois de tê-lo visitado antes.

Capa: Farley Santos

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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