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Análise: Perca a alma e ganhe muito mais em Dark Souls (X360)

Dark Souls é um jogo bastante comentado por aí, muito por conta de sua fama de ser extremamente difícil. Com vendas que alcançaram a marca... (por Pedro Vicente em 01/06/2013, via Xbox Blast)

Dark Souls é um jogo bastante comentado por aí, muito por conta de sua fama de ser extremamente difícil. Com vendas que alcançaram a marca de mais de dois milhões de unidades, podemos dizer que é um game bem jogado por aí também. O que pouca gente sabe, no entanto, é que se trata de um dos melhores jogos da história dos videogames. Isso mesmo, Dark Souls é uma obra-prima, não sem nenhum precedente é claro, visto que seu antecessor Demon´s Souls (publicado exclusivamente para o PlayStation 3 em 2009) é um jogo maravilhoso. Entre em Lordran por sua conta e risco, e saia de lá tendo ganhado uma das melhores experiências que os games podem proporcionar.

Como que joga isso aí, tio?

Antes de entrar no mérito da dificuldade do game é importante apontar que todo o sistema de jogabilidade de Dark Souls é extremamente refinado e sólido. A primeira tarefa que é imposta ao jogador é a de customizar seu personagem para a aventura. O jogador pode escolher entre algumas classes de guerreiro, bem como um item inicial e, claro, definir a aparência e o nome desejado para o aventureiro. O interessante é que ainda que sejam importantes para o início do game, essas escolhas não são imutáveis, ou seja, se em algum momento você achar que precisa deixar o seu guerreiro um pouco mais híbrido para que possa empunhar magias de cura ou ataques de piromancia, o jogo te dá essa possibilidade. De qualquer maneira, o sistema de evolução e aperfeiçoamento do personagem é muito bom.

Assim que tudo começa
O sistema de batalha é fluído. Você pode escolher os equipamentos que empunha em cada uma das mãos, bem como as armaduras e vestes para braços, pernas, cabeça e peitoral. O sistema te dá a possibilidade de trocar de armas durante a batalha, assim como de guardar seu escudo e empunhar a arma com duas mãos (o que acrescenta um bom dano no inimigo). As magias podem ser equipadas a partir da evolução do atributo Attunement, que te dá espaços para equipá-las. São magias que vão desde milagres a piromancia (o fogo figura como um importantíssimo elemento do jogo, e vários inimigos, inclusive, são fracos contra ele). 

Tanto magias quanto, principalmente, os equipamentos, podem ser melhorados e até mesmo modificados mediante algumas condições. Para melhora-los o próprio aventureiro pode, possuindo itens, aumentar os atributos da arma, escudo, arco ou armadura. Para modifica-los o jogador precisa encontrar certos itens (as embers) pelo jogo e entregá-las a um específico ferreiro que irá ascender os equipamentos (você pode modificar sua arma para que de dano dê fogo, por exemplo). São muitos os equipamentos presentes no jogo, e são diversas as maneiras de consegui-los.

Eu, você, nós dois, curtindo esse solzinho gostoso
As batalha são muito divertidas. Existem diferentes tipos de inimigos e desafios para serem vencidos. A luta contra os inimigos exige cautela e atenção do jogador, bem como uma boa análise do ambiente em que se encontra. Com o RB você dá o ataque normal, já o RT é um ataque mais forte e, geralmente, mais lento. Com o LB o jogador defende, com escudo ou com a arma empunhada em duas mãos, e o LT faz o personagem movimentar a mão esquerda no sentido de desviar o ataque do inimigo, dando a chance de um contra ataque que dá um dano bruto. Dano que também pode ser obtido pelo famoso backstab, que acontece quando o personagem se coloca atrás do inimigo e desfere o golpe. Pressionando o B você corre, pula e dá cambalhota, enquanto com o X utiliza-se o item selecionado. Apertando o analógico você pode fixar sua mira, assim defendendo e desviando perante os movimentos do oponente selecionado. Existe muito mais a ser explorado na jogabilidade do game do que essas informações de manual, como as Humanitys e as Souls (que são necessárias para evoluir, comprar itens e modificar armas) por exemplo.

Mas é difícil esse negócio?

Dark Souls é um jogo complicado e exige atenção, mas, a cada desafio que você vence, as coisas se clareiam um pouco mais. Não é extremamente difícil como muitos apontam, tampouco é um jogo fácil em que você vence os desafios apenas apertando botões desvairadamente. É um jogo que exige, como já dito, atenção e paciência. Não acho que seu grau de dificuldade seja um problema ou um ponto negativo do jogo, muito menos masoquismo, como já vi ser apontado em algumas análises lá fora. Dizem que é um game específico para um tipo de jogador. Claro que é. Mas qual jogo não é? Eu não gosto de jogos de luta e de corrida e, por melhores, piores, fáceis ou difíceis que sejam, eu simplesmente não vou gastar meu dinheiro com títulos destes gêneros. Simples assim. Todo game tem seu nicho, toda obra tem quem aprecie e quem não goste. 

Quem aprecia o estilo de jogo, no entanto, irá se deleitar em Dark Souls. A atenção exigida pelo jogo te dá a possibilidade de conhecer um mundo fantástico a partir do seu... tato. A sensação de ir tateando o mapa, de ir conhecendo os desafios pouco a pouco, de desenvolver estratégias para vencer este ou aquele chefe, é extremamente gratificante. A melhor partida é sempre a primeira. Dark Souls te dá a possibilidade de ir desvendando-o, de ir se familiarizando com ele. Um dos chefes iniciais, de uma determinada variedade de inimigo, aparece aos montes em um mapa mais para frente no game. O jogo é complicado, mas sabe te recompensar e te passar a sensação de estar evoluindo.

Vai dizer que enfrentar um lugar sem luz, lotado de esqueletos gigantes e outros sortilégios não é seu ideal de fim de semana?
O game te apresenta as bases em que ele vai se dar e ele é justíssimo quanto a isso. Ora, quando morreres irás aparecer na última fogueira visitada e perderás tuas almas e humanidades, apenas recuperando-as se chegares ao local de tua morte sem morrer novamente. Assim que o jogador é apresentado a essa questão, ele já sabe que terá de levar em conta essa especificidade. Esse é o tipo de experiência que Dark Souls reserva.

Além disso, o game é um verdadeiro jardim do éden para aqueles que gostam de discutir estratégias e formas de se vencer um desafio. Seja com os amigos, ou mesmo em fóruns da internet ou no YouTube, a quantidade de coisa para ser discutida e compartilhada é realmente impressionante. O jogo me fez reviver sensações e momentos antigos, nos quais eu discutia com amigos a melhor forma, o melhor equipamento, para deitar a cara de um chefe lazarento no chão.

Olha como o jogo é massa, você pode escolher se vai matar o "Timão" ou o "Pumba" antes

Arqueologia em Lordran

Outro ponto que desperta uma série de discussões na internet e em rodas de conversa de jogadores é a própria história do game. O jogo, de maneira direta, te dá apenas um panorama geral. A grande chama se apagou e agora o mundo está em uma era caótica, ou assim te fazem acreditar, e cabe ao jogador, o lendário e profetizado "morto-vivo escolhido", resolver esse problema, de uma forma ou de outra. Desta maneira o jogo te coloca no mundo e te dá uma única missão dividida em momentos bem definidos. A primeira coisa que deverá fazer é tocar os dois sinos. Pronto, a partir daí é você em um mundo desconhecido tendo que resolver essa tarefa, que claro, depois se desdobra em outra.

O mais interessante e magnífico no jogo é, porém, o que não é colocado diretamente. O termo "arqueologia" apontando pelo colunista da Forbes, Erik Kain, é genial para definir esse aspecto do jogo. Para ele, Dark Souls dá uma série de pistas (a partir da arquitetura e dos próprios ambientes, de diálogos com NPCs, de descrição dos itens e magias, etc,) que devem ser "cavadas" e interpretadas pelo jogador para construir a maravilhosa história do mundo do jogo. O gamer, então, será um verdadeiro arqueólogo desvendando mistérios esquecidos há muito tempo. E a mitologia do jogo é única. Todas as nuances a serem descobertas formam uma história, e estórias (dos personagens), lindas. Como dito, uma série de discussões em fóruns e vídeos no YouTube colocam em pauta as possibilidades da história do game, e não são poucos os debates, acreditem.

O visual deste mundo de "Fantasia da Escuridão"

A região de Lordran, na qual se passa o jogo, é vasta e muito bem construída. Cada cenário tem sua própria cara e seu jeito de ser. Todos os mapas são muito bem desenvolvidos e casam de maneira fenomenal com a atmosfera do game. São estágios que vão deste cidades destruídas, florestas, pântanos e fortes até cavernas de cristal. E, inteligentemente, esses lugares se interligam de uma maneira muito interessante ao longo do jogo. A arquitetura e os desafios de cada cenário são um show a parte em Dark Souls.

A parte gráfica do game consegue passar muito bem a ideia dos desenvolvedores para cada lugar, NPC e inimigo. Não é, no entanto, um trabalho gráfico primoroso, mas é, sim, muito competente. Um dos poucos pontos negativos do game é a queda do framerate em alguns desses estágios. O que quer dizer que, nesses lugares, o jogo começa a rodar de forma lenta, o que pode causar muita frustração.

Trilha sonora épica

O trabalho sonoro do game, desenvolvido pelo compositor Motoi Sakuraba, é estonteante. Uma série de temas sensacionais nos são apresentados durante a aventura. São músicas diversas que criam o clima para cada acontecimento. O destaque fica para as trilhas das épicas batalhas contras os chefes do jogo. Abaixo, destaco algumas dessas.


Prepare-se para morrer

Outra característica do game é sua parte online. Além de invadir o mundo de outros jogadores (e poder ter o seu invadido) para matá-los e conseguir itens, o jogador pode, também, quando estiver em sua forma humana (sempre que morre o aventureiro volta à forma de morto vivo), evocar outros jogadores para auxiliar em certas batalhas, assim como deixar uma marca para poder ser chamado também. É uma utilização muito esperta e divertida da jogatina online em um game como esse.

Além disso, o game possui um DLC muito bom. A expansão "Artorias of the Abyss" leva o jogador a uma parte totalmente nova da região, com uma série de novos itens e inimigos (incluindo chefes) para se vencer. Além, é claro, de trazer mais um pouco de tudo o que já foi apontado aqui e colocar mais aspectos nas discussões travadas sobre a história do game.

Uma viagem recompensadora

O jogo dirigido por Hidetaka Miyazaki é sensacional. Uma obra prima que resgata uma série de coisas maravilhosas que estavam se perdendo nos games. As épicas brigas contras os "chefões da fase", as discussões sobre táticas e "macetes" do game. E que trouxe outras especificidades sensacionais, como a história a ser desvendada, um mundo fantástico e um sistema de jogo sólido e divertido.

Eu não ligava meu Xbox há muito tempo, até o dia em que, indicado por um amigo, resolvi comprar o Dark Souls e tentar a sorte. Não é exagero dizer que o jogo me trouxe de volta a alegria de jogar um game em um console de mesa (eu estava só no 3DS e ficando um pouco descrente do mundo dos games) e a felicidade de poder ter uma hora que seja do dia para entrar naquele mundo. Dark Souls é uma obra de arte.

Prós

  • Mecânica de jogo sólida e recompensadora
  • Um mundo fantástico para ser descoberto e interpretado
  • Boas possibilidades de customização
  • Batalhas épicas contra chefes...
  • ...embaladas por músicas maravilhosas
  • Uso inteligente do modo online
  • Ornstein e Smough
  • O grande lobo Sif

Contras

  • Quedas de framerate
  • Os arqueiros de Anor Londo
Dark Souls - X360, PS3, PC - Nota Final: 9.5
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Vitor Nascimento 

é um homem sem qualidades. Para se esquecer das décadas de fracassos de sua vida real, resolveu passar parte do seu dia jogando. Iniciado nos games por Adventures e JRPGs, hoje em dia joga de tudo. Gosta muito de escrever sobre jogos, mas só dá nota 10 para games em que você pode dar Suplex em um trem.

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