O Jornal Nacional reproduziu neste sábado (20) uma reportagem sobre a perícia pedida pela Folha de São Paulo na gravação da conversa do presidente Michel Temer com o dono da JBS, Joesley Batista. O presidente Michel Temer citou, no pronunciamento que fez no sábado, essa perícia que apontou que a conversa foi editada.
Neste domingo (21), o jornal O Globo publicou na internet uma reportagem sobre o autor da perícia da Folha.
A reportagem relata que o perito judicial Ricardo Caires dos Santos afirma ser profissional em transcrever áudios. É bacharel em Direito pela Unifig, de Guarulhos, diz ter especialização em Direito Penal.
Antes de se dedicar à transcrição da conversa de Temer com Joesley, coube a ele determinar se havia ou não um fantasma numa foto da internet divulgada pela atriz americana Jéssica Alba no ano passado.
O Globo informa que Ricardo costuma se apresentar como perito do Tribunal de Justiça de São Paulo, mas é apenas um prestador de serviços eventual da Justiça, sem nenhum vínculo com o Tribunal.
Procurado pelo O Globo, ele afirmou que seu trabalho é apenas inicial e que qualquer conclusão depende de uma outra perícia.
Ele negou que o áudio da conversa tenha 50 pontos de edição, como apontado pela Folha. Segundo ele, são 14 pontos de edição, entre 15 e 20 pontos de corte e diversos trechos de ruído. Mas disse que ele não tem condições de apontar onde estão os pontos de edição.
O perito disse que o objetivo de seu trabalho era apenas que outro profissional fizesse a perícia.
Para elaborar o laudo, ele afirma ter usado um tocador de mídia, o programa Audacity, uma ferramenta gratuita para edições de áudio caseiras, e o software Vegas Pro 10, ferramenta profissional para edição de vídeo, embora a fita tenha apenas áudio e não imagens.
Especialistas ouvidos pelo O Globo afirmam que as ferramentas adotadas por Caires para fazer a perícia são insuficientes para dizer se houve ou não edição.
O jornal O Globo destaca no laudo da perícia uma série de erros na transcrição da conversa: a presidente do BNDES, Maria Sílvia Bastos, foi confundida com Marina Silva.
A CVM, Comissão de Valores Mobiliários, foi transcrita como CDN.
Na conclusão, o perito cometeu erros de português: escreve "para melhor identificação está marcados os pontos em vermelho e amarelo" quando deveria dizer “estão marcados".
Diz ainda e "o objeto ‘áudio’ está eivados de vícios". No lugar de “está eivado”, o que demonstra que o perito não tem o domínio da língua portuguesa.
O perito defendeu ainda que os trechos editados teriam reduzido o tempo total de conversa de 50 minutos para 38 minutos. A reportagem de O Globo alerta que ele não considerou a gravação feita enquanto Joesley estava no carro, antes e depois de entrar no Palácio Jaburu.
No site que mantém na internet, Caires se diz especializado em espionagem. Apesar da carreira de perito, o site também mostra que ele atua no ramo imobiliário e tem registro de corretor de imóveis.
O perito Ricardo Caires dos Santos foi o mesmo contratado pela família do menino Bernardo Boldrini para tentar provar que a carta de suicídio da mãe dele, a enfermeira Odilaine Uglione, era falsa. Na ocasião, o perito também foi entrevistado pelo Fantástico para explicar o seu laudo.
A Folha de São Paulo informou que contratou o perito Ricardo Caires dos Santos e posteriormente o entrevistou para produção de reportagem. Tanto no laudo produzido como na entrevista, Santos afirma textualmente que a gravação sofreu 53 edições.
Em nome da transparência, marca de seu jornalismo, a Folha voltará ao profissional para que ele esclareça o teor das declarações dadas ao O Globo, a quem Santos ofereceu outra conclusão. Santos é perito judicial e já fez análises para diversos órgãos de imprensa.