O perito e professor da Unicamp, Ricardo Molina, disse nesta segunda-feira que a gravação feita pelo dono da JBS, Joesley Batista, em conversa privada com o presidente Michel Temer, tem “problemas que são detectados até por leigos”.
Ele fez apresentação técnica sobre a gravação a pedido da defesa do presidente da República. A imprensa foi convocada pelo advogado de Temer, Gustavo Guedes.
Para ele, o arquivo tem sérios problemas de qualidade. Ele destacou que a gravação está também “contaminada por tanta descontinuidade” e boa parte dos problemas é explicada pela falta de qualidade do gravador.
“Causa estranheza que uma gravação dessa importância tenha sido feita com um gravador tão vagabundo”, afirmou Molina. Segundo ele, o aparelho custa no site de compra “Mercado Livre” R$ 26.
Mesmo ao afirmar que se tratava de uma apresentação técnica, o perito frisou que se trata de “uma gravação extremamente esburacada” e “deveria ter sido considerada imprestável desde o primeiro momento” pelo Ministério Público Federal.
“Não dá para ouvir patavina, sobre o que o presidente Temer falou. Mas sobre o que Joesley falou, não. Porque ele estava perto do gravador”.
"Todo mês"
Segundo Molina a fala de Joesley divulgada como “todo mês” pela Procuradoria-Geral da República (PGR) seria, na verdade, “tô no meio”.
A fala foi interpretada como indicação, em conversa com Temer, de um pagamento mensal para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que teria contado com aval do pemedebista.
De acordo com Molina, os comentários de Temer depois que Joesley disse “tô no meio” são ininteligíveis. “Como se pode falar de sequência lógica se mais da metade da fala do presidente Michel Temer com certeza é ininteligível?”, questionou o perito, para quem não seria possível atestar a autenticidade da gravação, o que a tornaria inválida como prova.
“A baixa ininteligibilidade não é o único nem o mais grave problema que macula a gravação. Existem inúmeros pontos ao longo da gravação nos quais se poderia efetuar, sem deixar qualquer vestígio, uma edição envolvendo corte de material original”, afirmou, referindo-se a descontinuidades. “Eu posso arrancar um pedaço nessa gravação e não vai haver um perito no mundo que vai descobrir que eu fiz isso”, falou Molina.
Segundo ele, algumas descontinuidades poderiam ser atribuídas, em tese, à má qualidade do gravador. Porém, de acordo com ele, como não há padrão para todas as descontinuidades encontradas, as falhas técnicas não podem ser usadas como justificativa.
Molina disse que o trecho de 17 segundos, considerado um dos mais comprometedores da conversa de Temer com Joesley, apresenta sinais de edição. Ele não cravou, no entanto, que houve tal medida.