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Política

Deputado da meia entrega carta de renúncia à Câmara do DF

26 fev 2010 - 18h16
(atualizado às 20h14)
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O ex-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) deputado Leonardo Prudente (sem partido, ex-DEM) entregou sua carta de renúncia à mesa diretora da Casa, na tarde desta sexta-feira. O documento deve ser lido na próxima terça-feira, no Plenário da CLDF. O parlamentar ficou conhecido após aparecer em um vídeo - gravado durante a Operação Caixa de Pandora - guardando dinheiro de suposta propina nas meias.

Leonardo Prudente apresentou sua carta de renúncia à Câmara do DF
Leonardo Prudente apresentou sua carta de renúncia à Câmara do DF
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Com a renúncia, Prudente deve afastar um eventual risco de cassação de mandato decorrente do processo por quebra de decoro parlamentar aprovado pela Comissão de Ética da Câmara do DF nesta semana.

Na carta de renúncia, ele diz que deixa o deixa o mandato "para que as prerrogativas do cargo não interfiram nas investigações e para que as apurações sejam feitas com isenção".

No texto, ele reafirma que o dinheiro, com o qual foi flagrado nos vídeos, foi doação de campanha não contabilizada. Ele disse esperar que a crise política do DF mobilize o Congresso Nacional a fazer a reforma política com a implementação do financiamento público de campanha.

Mais cedo, o parlamentar, que enfrenta processo de cassação, enviou 10 mil cartas a seus eleitores com pedido de desculpas. Enviadas por mala-direta, com o endereço do gabinete de Prudente e o carimbo da Câmara, as correspondências utilizam estratégia semelhante à do governador licenciado, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), que é a de pedir desculpas aos eleitores pelas denúncias. "Espero que você e sua família possam estar desvencilhados de pré-julgamentos e que avaliem com serenidade o julgamento que a mídia fez a meu respeito", pede ele na carta.

Em outro trecho, Prudente afirma que em 2010 quer trabalhar para "refutar os fatos inerentes". E diz que o vídeo do dinheiro foi filmado em 2006, e o da oração, em 2009. "São versões maldosamente apresentadas para confundir o telespectador e gerar comoção", diz o comunicado.

Entenda o caso

O mensalão do governo do DF, cujos vídeos foram divulgados no final do ano passado, é resultado das investigações da operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. O esquema de desvio de recursos públicos envolvia empresas de tecnologia para o pagamento de propina a deputados da base aliada.

O governador José Roberto Arruda aparece em um dos vídeos recebendo maços de dinheiro. As imagens foram gravadas pelo ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, que, na condição de réu em 37 processos, denunciou o esquema por conta da delação premiada. Em pronunciamento oficial, Arruda afirmou que os recursos recebidos durante a campanha foram "regularmente registrados e contabilizados".

As investigações da Operação Caixa de Pandora apontam indícios de que Arruda, assessores, deputados e empresários podem ter cometido os crimes de formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva e ativa, fraude em licitação, crime eleitoral e crime tributário.

Leia a íntegra da carta de renúncia de Leonardo Prudente:

À mesa diretora da Câmara Legislativa do Distrito Federal

Prezados Senhores,

Nas duas últimas legislaturas da Câmara Legislativa do Distrito Federal, fui eleito ao cargo de deputado distrital, onde exerci as importantes funções de Presidente de Comissões, líder do governo e presidente da Casa.

Como presidente da Comissão de Orçamento defendi a redução da carga tributariam a limitação do reajuste de impostos aos índices de inflação e o reforço orçamentário para as áreas de Saúde, Educação e Segurança.Como líder do governo, os diálogos com os parlamentares, e em especial com a oposição, foram a minha tônica, o que nos levou a fazer mudanças e aprimorar quase todos os projetos enviados pelo Poder Executivo.

Como presidente, pautei a minha gestão na forma compartilhada com os demais membros da mesa. Trabalhei com austeridade e transparência. Obtivemos uma economia significativa que nos possibilitou dar reajuste a todos os servidores, implantar o plano de carreira e manter a execução financeira de 2009 menor que no ano anterior. Foi criado o programa A Câmara Mais Perto de Você que aproxima o Poder Legislativo do Cidadão.

Sou autor de leis que beneficiam toda a população: a lei da Nota Legal, a que institui a Educação Financeira nas Escolas, a que cria o programa de Engenharia e Arquitetura Pública e muitas outras.

A divulgação de vídeos envolvendo vários integrantes do Poder Executivo e do Legislativo, inclusive minha pessoa, levou a uma crise política e tem deixado perplexa a população.

A repetição da imagem onde apareço recebendo doações de campanha não contabilizada em setembro de 2006, como se fossem atuais, reconheço, são muito fortes, assim como é avassaladora a minha presença no vídeo da oração feita em setembro de 2009, pelo deputado Brunelli. As cenas são mostradas como se fato imediatamente posterior aquele mostrado nas imagens de setembro de 2006, mas aconteceram três anos depois, em contexto totalmente diverso.

Os vídeos repetidamente apresentados são maldosos, visam confundir o telespectador, gerar comoção, indignação e liquidar meu mandato, minha honra e meu futuro político.

Não menosprezo os fatos, tampouco desqualifico as imagens, apenas coloco as coisas no seu devido tempo e lugar.

Já admiti publicamente e reafirmo que errei ao receber doação para campanha e não contabilizar, em setembro de 2006. Estou pagando um preço alto. Tenho certeza que as investigações irão revelar a verdade dos fatos. O processo legal e a Justiça serão restabelecidos.

Fui vítima de uma modelo autofágico do sistema eleitoral Brasileiros no qual prevalece a hipocrisia. Os candidatos muitas vezes deixam de declarar o recebimento de recursos financeiros, para a campanha a pedido do próprio doador, que não deseja ver seu CPF ou CNPJ divulgados na internet e vinculados a um candidato ou Partido.

Embora o ex-ministro José Dirceu tenha afirmado em recente entrevista: 'mensalão não é corrupção e sim financiamento de campanha com caixa 2', discordo. Mensalão, atividade da qual nunca tomei parte, é corrupção sem e financiar campanha com caixa 2 é ilegal.

Desejo que a crise política do DF mobilize o Congresso Nacional para a urgência da reforma política, com a implementação do financiamento público de campanha e fiscalização mais rigorosa que coíba o abuso de poder econômico nas campanhas eleitorais.

Quero também que a situação de hoje seja um exemplo aos candidatos que irão concorrer às próximas eleições.

Não desejo a ninguém que experimente a dor e o sofrimento que a minha família e eu estamos vivendo.

Agradeço a Deus ela dádiva da vida, e a minha família, em especial minha esposa e meus filhos pela tolerância e compreensão.

Agradeço aos meus eleitores, aos funcionários de gabinete, e todos os servidores da Câmara pelo apoio recebido quando do exercício da presidência Casa; às lideranças comunitárias; aos conselhos de pastores; aos sindicatos, federações, prefeituras e associações; e à população em geral.

Para que as prerrogativas do cargo não interfiram nas investigações e as apurações sejam feitas com isenção, renuncio ao mandato de deputado distrital.

Fonte: Redação Terra
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