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iPad 10 anos: o que mudou e não mudou na computação pessoal

Acompanhe a história do iPad, o tablet da Apple que completa 10 anos em 2020, e como ele mudou nossos hábitos de consumir e produzir conteúdo

4 anos atrás

No dia 27 de janeiro de 2020, o iPad completou 10 anos. A última grande invenção de Steve Jobs, que o definiu como "revolucionário", tinha como meta preencher o vácuo entre o iPhone e os Macs (e, por extensão, a telefonia móvel e a computação pessoal) com um produto voltado principalmente ao consumo de conteúdo.

O tablet criou uma nova categoria de produtos, melhores e mais simples que aniquilou os netbooks (quem?). Ele evoluiu, ganhou novas versões e hoje vem sendo posicionado pela Apple como um gadget capaz de substituir os PCs em todos os aspectos (risos).

Steve Jobs e o iPad original

Vamos dar uma olhada em como o iPad surgiu, o impacto que ele causou no mercado e quais mudanças promoveu, além de observar o que não está muito diferente hoje do que era em 2010.

No início...

A ideia de Jobs para a computação pessoal, em que o usuário deveria ser capaz de carregar um computador ou coisa semelhante para qualquer lugar era muito, mas MUITO antiga. Em 1983, durante uma palestra na International Design Conference in Aspen (IDCA), ele disse o seguinte:

"O que nós (a Apple) queremos fazer é lançar um computador incrível, em um livro que você pode carregar com você e que você pode aprender a usar em 20 minutos... E queremos que ele tenha um link de rádio para que você não tenha que conectá-lo a nada, mas continue se comunicando com bancos de dados e outros computadores."

Ainda que muito distante da ideia conceitual de Jobs (que convenhamos, era algo praticamente impossível para a época, até porque a telefonia celular ainda engatinhava), o primeiro Macintosh, lançado em 1984, apontava na mesma direção: ele não era um livro, mas era pequeno e compacto, podendo ser transportado facilmente dentro de uma sacola.

Para a época, estava de bom tamanho (no pun intended).

O primeiro protótipo de computador de mão da empresa foi o Newton, um PDA lançado em 1993 que embora inovador, nunca vendeu grande coisa e foi posteriormente sucedido por similares, como os lançados pela finada Palm.

É preciso lembrar que a maçã era originalmente uma companhia que vendia computadores, que vez ou outra se aventurou em outras paragens, como com o desastre Pippin, um console de videogame produzido em parceria com a Bandai, ou a Apple QuickTake, uma câmera digital que só conversava com Macs e custava os olhos da cara. Todos esses projetos foram eliminados quando Steve Jobs voltou em 1998.

Contudo, o Newton forneceu uma ideia que poderia ser melhor trabalhada. Pouco tempo depois, o iPod foi o grande responsável pela mudança de ventos em Cupertino, que mudou seu nome de Apple Computer Inc. para Apple Inc., deixando claro que a companhia não mais se limitaria a Macs, ainda que o iMac G3 tenha sido uma ideia sensacional.

iPad primeiro, iPhone depois... Ou não

Ao contrário do que muita gente pensa, o iPad era o projeto original da Apple do qual o iPhone derivou. O primeiro projeto de Jonathan Ive, quando ele entrou para a companhia em 1991, foi de um "tablet" com stylus chamado Macintosh Folio. Já em 2004, seu estúdio estava desenvolvendo rascunhos de um produto similar, que "envolvia projetores".

Curiosamente, este protótipo pode ser visto em uma cena de Os Incríveis (2004), lembrando que a Pixar foi uma empresa que Jobs comprou de George Lucas, antes dela ser adquirida pela Disney.

A Apple pretendia lançar o iPad primeiro e depois o iPhone, sendo esta a ideia original de Ive, mas o designer veio a concordar com Jobs, que considerava o celular mais importante que o tablet. Assim, o iPhone deu as caras em 2007, promovendo um pandemônio na telefonia celular.

Até então, os aparelhos da Blackberry com suas telas simples e teclados físicos eram o sinônimo de smartphone, e mesmo o Android seguiria tal direção, não fosse o gadget da Apple chegar com nenhuma tecla e tela touch.

Netbooks, slates e iPad

Até a chegada do iPad, a ideia de computação móvel barata e acessível era um tanto alienígena para a maioria dos usuários, pois os notebooks eram a solução padrão e eles ainda não eram nada disso. As coisas mudaram quando a ASUS teve a (não tão) brilhante ideia de lançar a linha eeePC, uma forma de trazer para o mundo real o sonho maluco de Nicholas Negroponte, com sua proposta "um computador por criança" (OLPC).

O conceito era até ousado: computadores rodando Linux com hardware simples e dimensões compactas, que fossem minimamente decentes e fáceis de transportar. O ASUS eeePC 700, lançado em 2007 inaugurou os netbooks, que por um tempo atenderam bem ao seu propósito.

ASUS eeePC 700 / ipad

ASUS eeePC 700

O problema era tentar rodar qualquer coisa mais exigente do que Linux neles. Era preciso realizar altas gambiarras para instalar qualquer versão do Windows nos bichinhos e, convenhamos, a performance geral era bem baixa mesmo com Linux, limitada a editar textos e navegar na net. Jogos? Assistir vídeos? Esqueça.

Ao mesmo tempo, havia conceitos de fabricantes, como a Microsoft, conhecidos como "Slate" que mal ou bem eram semelhantes ao iPad, mas exigindo o uso de uma caneta stylus e trazendo acessórios como... Teclado. Segundo Steven Sinofsky, ex-chefe da divisão Windows, o iPhone apontou para uma direção que Redmond achou que seria a correta, um "slate com stylus" rodando macOS.

Por isso mesmo, a Microsoft teve que rever seus conceitos do zero (tá virando rotina...) quando Jobs sentou no sofá e começou a manusear o iPad.

Na apresentação, Jobs tirou sarro dos netbooks, mesmo com 40 milhões de unidades vendidas na época, pois os considerava soluções piores, pobres em performance e autonomia (e era verdade). O iPad usava o iOS e era mais rápido, mais compacto, dispensava teclado e stylus (impensável, segundo Sinofsky), se conectava à internet via Wi-Fi ou redes móveis e era intuitivo, fácil de usar. Exatamente como o "computador-livro" de 1983.

Não é preciso ser um gênio para sacar que não demoraria muito para toda a indústria correr atrás da Apple e do iPad, e não falo só dos fabricantes. Administradores de sites, desenvolvedores de aplicativos para consumo de mídia, estúdios de jogos e veículos de mídia, todo mundo queria uma casquinha do tablet da maçã, prevendo que ele venderia horrores.

E vendeu. Mais de um milhão de pessoas adquiriram a primeira versão do gadget em um mês (ele chegou às lojas em 03/04/2010), com 15 milhões de unidades vendidas ao todo. As vendas continuaram altas até 2013, momento em que o tablet alcançou o ápice. Mesmo com as vendas minguando com o passar dos anos, todas as versões do iPad somam 360 milhões de unidades vendidas (dados de 2017).

O que mudou (e não mudou)

A resposta do mercado veio a cavalo: os netbooks foram sumariamente aniquilados, com os fabricantes migrando para a produção de tablets. Houve produtos bons, como a linha Galaxy Tab da Samsung, que variou apresentando produtos de tamanhos diferentes, com mais ou menos resolução, mais ou menos portáteis, para atender o maior número de usuários possível.

Outros não deram tanta sorte, como o Motorola Xoom, que virou uma piada quando a fabricante insistiu em dar suporte ao Flash. Outros fabricantes, como a LG tentam até hoje, enquanto outros, como HP e Huawei jogaram a toalha. E teve o BlackBerry Playbook...

Outro trunfo do iPad foi a acessibilidade. Graças à facilidade de uso, o tablet da Apple e seus concorrentes promoveram um boom na inclusão digital. Há desde crianças pequenas a idosos em idade avançada pegando um iPad ou Galaxy Tab e usando facilmente, de modo orgânico e intuitivo. A oferta de apps também evoluiu junto com os gadgets, permitindo não só consumir, mas também produzir conteúdo.

Este é um dos pontos em que a Apple divergiu da ideia original de Steve Jobs. A linha iPad Pro, com suporte a teclado e Apple Pencil (e até mouse!) foi posicionada como um "PC killer", máquinas capazes não só de substituir os notebooks, mas mesmo desktops PC em toda e qualquer situação, algo que nunca irá acontecer.

Por outro lado, o iPad acabou por estimular uma evolução dos netbooks, puxando mais para a ideia do MacBook Air. Foi assim que surgiram os ultrabooks, laptops compactos e poderosos, porém caros. Já o Google preferiu apresentar sua própria ideia com os Chromebooks, que possuem diversos hardwares, desde o acessível ao de ponta. Todos muito mais potentes do que os eeePC de antigamente.

Apple / Linha iPad 2019

O iPad mudou muita coisa na relação que temos com consumo e produção de conteúdo e criou um mercado de dispositivos fáceis de usar e acessíveis, mas ao tempo não foi uma revolução completa na computação pessoal. Junto com os smartphones, os tablets mudaram a percepção do usuário final quando este concluiu que não precisa de um PC para ler e-mails e ver vídeos. Um iPhone e um iPad, ou gadgets Android, já resolvem seu problema.

Para profissionais em geral e outros criadores de conteúdo, os desktops e notebooks vão continuar sendo ferramentas indispensáveis, onde o iPad pode muito bem ser usado como um acessório. Tanto é que o macOS agora tem o recurso Sidecar, que usa o tablet como segunda tela.

O iPad pode não ser mais a menina dos olhos da Apple e vender como água no deserto, mas não dá para negar que ele mostrou uma nova abordagem para a computação pessoal, que continua evoluindo.

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