O ano letivo está terminando. Enquanto o critério de aprovação
automática é discutido, um estudo revela um festival de absurdos
nas escolas. Alunos escrevem “acho” com “x” e professores,
“trouxe” com “ss”.
Veja o site do Fantástico
A professora lê a redação de um aluno da sexta
série. O desafio é decifrar o que está escrito: "izo"
significa isso, "infonática" para informática, e
"azente" para a gente.
A professora diz que o caso não é uma exceção
entre seus alunos em uma escola municipal do Espírito Santo.
“80% deles não têm a capacidade da leitura e da escrita e
competências matemáticas para estar entre 5º e 8º série”, diz
Wandréya Fernandes.
Alguns textos não fazem o menor sentido, mesmo com
as palavras escritas corretamente. “Não tem coesão, eles não
sabem estruturar um texto. É o analfabeto funcional”, diz o
professor Marcos Von Rondon.
“O aluno que não sabe ler e escrever, não vai saber interpretar
um problema de matemática”, comenta Wandréya.
Uma professora de uma escola municipal do Rio de
Janeiro apresentou uma pergunta de geometria. “Dou um desenho,
dividido em oito partes e pergunto: cada uma destas partes
representa que fração do retângulo? Ele simplesmente responde
que sim. Ele não tem a compreensão do que está sendo pedido, é
uma deficiência de leitura, de interpretação, que é geral,”
explica Telma Alves.
Em São Paulo, os alunos que passaram pelo ensino
fundamental chegaram ao ensino médio escrevendo coisas assim:
certo com "s", roça com "s", alguns com
"u".
Joelma Damasceno conta a história de um aluno.
“Eu tive um aluno do terceiro ano do ensino médio que se formou
e, depois de um ano, voltou e me pediu para eu dar reforço. Ele
falou ‘professora eu fui fazer uma ficha em uma empresa e eu
fiquei meia hora olhando para a ficha. Eu só coloquei meu nome e
endereço, o resto eu não sabia preencher’”.
Problemas na universidade
Em uma sala da Universidade Federal do Espírito
Santo estuda quem já passou pelo ensino fundamental, ensino
médio e foi aprovado no vestibular. Mas, analisando alguns
textos, fica a dúvida: será que eles aprenderam a lição? Um dos
alunos, por exemplo, escreveu chance com cedilha, achar com ‘x’,
consigo escrito separado. Textos de universitários.
Um problema que não encontra limites geográficos.
Na pacata cidade de Vera Cruz, na Bahia, o professor de ciências
João Santana enfrenta as mesmas dificuldades.
“É forçar a barra para um aluno, desprovido desses
conhecimentos básicos, passar de série. É alguém dizendo para a
gente dar um jeitinho, que aquele aluno não tem culpa do ensino
ser ruim, e a gente joga para frente o aluno que não tem
capacidade nenhuma de estar na série em que está”, afirma
Santana.
“O professor está acostumado a usar a reprovação
como punição, então a culpa é sempre do aluno. Agora, eu quero
repartir a culpa. A culpa não é só do aluno, é do professor e é
da direção da escola”, afirma a antropóloga Eunice Durham.
Erros dos professores
Uma mãe tomou um susto quando recebeu um bilhete em que
a professora escreveu trouxe, com “ss”.
“Isso me preocupa e eu acho inadmissível quando
uma professora que está alfabetizando escreve desta forma”,
afirmou.
Uma realidade mais freqüente do que se imagina. “É
muito difícil você fazer uma revolução na educação sem ter
professores muito bem formados. Nós não temos”, afirma Eunice.
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