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Milton Sogabe: Artistas e Projetos

por Paula Kaori


 

Milton Sogabe é professor titular da Universidade Estadual Paulista e pesquisador da relação arte, ciência e tecnologia. Ele discutiu, entre um grupo de ouvintes, a chegada de outras disciplinas no âmbito das artes, os conceitos e evolução do real e do virtual e, ainda, falou sobre a atual situação da classe acadêmica artística e do papel da pesquisa na sua formação.

O estudo acerca do processo de cognição da imagem é fundamental para o entendimento da “evolução” do real e do virtual. Porém, antes de abordar esse fenômeno, há de se refletir sobre a influência dos cinco sentidos humanos na percepção do mundo externo – o chamado umwelt. Cada indivíduo possui uma percepção da realidade distinta de outro ser. Além disso, a ação de “perceber” é exclusiva do homem, tal como a capacidade de analisar os objetos ao seu redor. O ato de projetar, pensar ou planejar uma ação futura - seja este tempo imediato ou a longo prazo - também é uma singularidade do ser humano. Além de ter sido uma qualidade definitiva para a adaptação e permanência da espécie no mundo.

A arte interativa não poderia senão remeter ao processo de percepção: objeto e fruidor participam de um ciclo fenomenológico, quer dizer, o indivíduo imprime sua realidade subjetiva no objeto externo, que a devolve com novos componentes de cognição.

Atualmente, convencionam-se os conceitos de “real” e “virtual”, em que o segundo não possui relação física com o mundo, mas, a percepção do espectador é a de um objeto verdadeiro. Essa é uma questão fundamentalmente visual e que nos leva a questionar: quando a imagem ficcional sobrepõe o mundo real?

A “realidade virtual” ocorre quando as propriedades concretas são aplicadas ao imaginário, ou seja, é o efeito “ilusório” de um objeto virtual sobre o espectador, que o percebe materialmente. Já a “realidade ampliada” é o fenômeno inverso: as propriedades virtuais passam a incidir sobre o concreto. Nesse caso, o real começa a se confundir com o virtual. Todos esses processos são parte da evolução do real e do virtual - a virtualização da realidade e a materialização do imaginário.

Após a exposição do professor sobre o tema acima, o assunto mudou para a discussão sobre o papel da arte - disciplina que só desenvolveu uma pós-graduação na década de 1970 - na área da pesquisa. O próprio mercado exigiu e exige cada vez mais, uma desenvoltura profissional artística formal, o que fez os artistas largarem mão de suas posições marginais em relação à vida regrada de outras profissões que implicam anos enquadrados em uma instituição acadêmica.

O fato é que essa cobrança comercial inflou o corpo artístico inserido na Academia. Além disso, essa ação trouxe uma série de questões controversas, por exemplo, a formação de um artista que mergulha na teoria sobre a escultura, torna-se um especialista em obras tridimensionais, porém, sem jamais ter frequentado um ateliê.

Na área de projetos culturais, a arte encontra espaço para servir ao público em geral, em função do programa de fomento à cultura. Porém, há uma dificuldade por parte dos “idealizadores-artistas” em confrontar o grande número de burocracias que ordenam a seleção dos programas. Deveria haver contabilidade ou padronização jurídica em um projeto de cunho artístico? Aquilo que serve para um deve servir a todos.

Estaria na academia a origem da deficiência em formular e normatizar um projeto, já que uma das funções dessa instituição é preparar o aluno para tais convenções? Pois que a transmissão de informações ainda é precária nesse espaço em que muitos ainda acreditam que a arte não é uma profissão como outra qualquer. Além das barreiras burocráticas, os artistas devem ultrapassar os próprios estereótipos que se negam a integrar o mundo das regras sociais.


O encontro ocorreu no dia 21/10/2009, quarta-feira, às 14h30, no Paço das Artes, como parte do programa "Arte-projeto" da curadoria "Temporada de Projetos na Temporada de Projetos"


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